segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Canta, Marlene: ‘Bloco da solidão’ foi puxado por Marlene no carnaval de 71

Marlene no Maracanãzinho, em 1968
Sucesso nas vozes de Altemar Dutra, Maysa e Jair RodriguesBloco da solidão é um dos casos mais exemplares do encontro entre a dor-de-cotovelo e a música de carnaval. Um encontro que é inusitado, mas não raro, como provam centenas (milhares?) de letras sofridas cantadas em ritmo de samba ou de marcha-rancho. Pois, no caso específico de Bloco da solidão, foi Marlene quem a cantou pela primeira vez, no V Festival de Músicas de Carnaval, em 1971. Na grande final, realizada em 6 de fevereiro de 71, sua interpretação rasgada e teatral contou com o acompanhamento dos Trios Nagô e Irakitan, arrebatando o público que lotava o Maracanãzinho e os telespectadores que acompanhavam pela TV Tupi.

Arrebatou também o júri do evento, que fez de Bloco da solidão a campeã daquele carnaval, valendo a seus compositores – o capixaba Jair Amorim (1915-1993) e o cearense Evaldo Gouveia (1928-) – um prêmio de Cr$ 9 mil e o troféu Lamartine Babo (entregue, ironicamente, por Emilinha Borba). A música se tornaria um dos maiores sucessos da parceria Jair-Evaldo, juntamente com os hits românticos Brigas, Alguém me disse, Sentimental demais e com belos sambas como O conde e O mundo melhor de Pixinguinha, entre outros. O festival de 71 teve ainda premiações dentro das categorias marcha-rancho (A lágrima, de Max Nunes e Laércio Nunes) e samba (Saberás, de Oswaldo Nunes).

Áurea Martins
Pois Bloco da solidão foi uma das músicas escolhidas para homenagear Marlene no CD As melhores marchinhas do carnaval 2014. Sua interpretação coube a Áurea Martins, veterana da noite carioca, que fez da gravação – arranjada por Luiz Brasil – o momento mais emocionante do disco. Batizada Áldima Pereira dos Santos, Áurea (nome artístico criado pelo ator e radialista Paulo Gracindo) tem 80 anos e é carioca no bairro de Campo Grande, onde iniciou sua carreira na década de 50, cantando nos bailes locais. Projetou-se artisticamente em 1969, ao vencer o programa A grande chance, de Flavio Cavalcanti, transmitido pela TV Tupi. Desde então, fez seu nome nas principais casas noturnas do Rio, gravou cinco discos solo e recebeu o Prêmio da Música Brasileira como melhor cantora de MPB de 2009.

Bloco da solidão
Jair Amorim e Evaldo Gouveia

Angústia, solidão
Um triste adeus em cada mão
Lá vai meu bloco, vai
Só desse jeito que ele sai
Na frente sigo eu,
Levo o estandarte de um amor
O amor que se perdeu no carnaval
Lá vai meu bloco,
E lá vou eu também,
Mais uma vez sem ter ninguém,
No sábado e domingo,
Segunda e terça-feira
E quarta-feira vem,
O ano inteiro é todo assim,
Por isso quando eu passar
Batam palmas pra mim

Aplaudam quem sorrir
Trazendo lágrimas no olhar
Merece uma homenagem
Quem tem forças pra cantar
Tão grande é minha dor
Pede passagem quando sai
Comigo só
Lá vai meu bloco, vai...

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