domingo, 13 de janeiro de 2013

Histórias do Lobo: na calma da Urca, o guardinha contava os dias pro carnaval

Haroldo Lobo ganhava a vida como inspetor da guarda municipal. Não era o único compositor popular a viver fardado (havia também Roberto Martins, Nelson Cavaquinho e mais alguns contemporâneos), mas é no mínimo curioso que o mesmo sujeito que se transfigurava no carnaval – de ali babá, cacique, baiana ou o que desse na telha – suportasse passar o resto do ano fardado, de quepe e coturnos, vigiando os outros. Talvez as duas realidades tão distintas se completassem.

Mas o fato é que quem quisesse encontrar Haroldo Lobo sabia que tinha que ir à Urca, onde ele passava os dias a zelar pela ordem. Pois era lá, no bairro pacato em que fervilhava o Cassino da Urca (em atividade até 1946), que parceiros iam procurar nosso personagem para arrematar composições ou intérpretes iam sondá-lo em busca de um estouro para o próximo carnaval.

Nelson Gonçalves
Foi o caso do cantor Nelson Gonçalves, que numa dessas incursões à Urca, em setembro de 1949, saiu de lá com aquele que seria o maior sucesso carnavalesco de sua carreira: a marcha Serpentina. Já estava pronta havia um ano e até então era uma marcha-rancho, dolente como a história romântica que era contada na letra.

No estúdio da RCA Victor, foi Nelson quem propôs, no dia da gravação (9 de outubro de 1949), que Serpentina fosse lançada em ritmo de marchinha, mais ligeira, facilitando a comunicação com o público. O disco saiu em janeiro de 1950 e Serpentina chegou a fevereiro já como uma das músicas mais cantadas daquele carnaval.

Parceiro de Haroldo Lobo em Serpentina, o jornalista David Nasser (repórter da badalada revista O Cruzeiro) aproveitaria o tema para emplacar outra marchinha, na folia de 1952: Confete (“pedacinho colorido de saudade”), parceria com Jota Júnior e último sucesso carnavalesco de Francisco Alves.

Serpentina
Haroldo Lobo e David Nasser

Guardo ainda bem guardada a serpentina
Que ela jogou
Ela era uma linda colombina
E eu um pobre pierrô


Guardei a serpentina que ela me atirou
Brinquei com a colombina até as sete da manhã
Chorei quando ela disse “Vou-me embora...
Até amanhã! Pierrô, até amanhã!”


Clique aqui para ouvir a gravação original de Serpentina, com Nelson Gonçalves.

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