Histórias do Lobo: ‘Alá-lá-ô’, da Gávea ao Café Belas Artes

No tempo em que citar Alá não dava galho, o Deus dos muçulmanos veio parar na folia carioca, onde só se pediu “água pra ioiô” e “água pra iaiá”. Foi no carnaval de 1941, quando Haroldo Lobo e Nássara emplacaram um dos maiores sucessos carnavalescos de todos os tempos: Alá-lá-ô – ou Allah-lá-ô, como se lia no disco da Victor lançado, ainda no fim de 1940, pelo cantor Carlos Galhardo.

Autocaricatura de Nássara

Antes de chegar ao vozeirão de Galhardo, no entanto, a famosa marchinha percorreu caminho curioso, iniciado no carnaval de 1940, quando um grupo de foliões saiu pelas ruas da Gávea cantando um refrão de Haroldo Lobo: “Chegou, chegou a nossa caravana / Viemos do deserto / Sem pão e sem banana pra comer / O sol estava de amargar / Queimava a nossa cara / Fazia a gente suar” (anos mais tarde, já depois da morte de Lobo, David Nasser se diria parceiro dele nessa Caravana).

Confiante no sucesso do refrão, Lobo resolveu pedir uma segunda parte ao multi-talentoso Antônio Nássara – redator publicitário, jinglista, cronista, grande compositor e caricaturista genial. A resposta saiu melhor do que a encomenda, como Lobo ouviu do amigo no Café Belas Artes, na esquina da Avenida Rio Branco com Almirante Barroso: “Viemos do Egito / E muitas vezes nós tivemos que rezar...”

Gostou tanto – especialmente dos gritos de “Alá! Alá! Alá, meu bom Alá!” – que fez uma nova primeira parte (esta que todo mundo sabe de cor) e pediu o arranjo a Pixinguinha, que, mesmo entupido de encomendas, encontrou tempo para dar forma definitiva à marcha de Haroldo Lobo e Nássara. Desde então, já foram 50 regravações de Alá-lá-ô, por artistas como Marlene, Blecaute, Maria Bethânia e o grupo Monobloco.

Alá-lá-ô
Haroldo Lobo e Nássara

Alá-lá-ô, ooô ooô
Mas que calor, ooô ooô
Atravessamos o deserto de Saara
O sol estava quente
Queimou a nossa cara
Alá-lá-ô ooô ooô
Mas que calor ooô ooô

Viemos do Egito
E muitas vezes nós tivemos que rezar
Alá! Alá! Alá, meu bom Alá!
Mande água pra ioiô
Mande água pra iaiá
Alá, meu bom Alá!

Clique aqui para ouvir a gravação original de Alá-lá-ô, por Carlos Galhardo, com o belo arranjo de Pixinguinha.