Seguindo uma tradição que vinha da década de 1930, quando os principais artistas de rádio brasileiros divulgavam suas músicas em produções cinematográficas, Marlene também deu as caras na sétima arte. A partir de 1944, quando estreou em Corações sem piloto (longa-metragem de Luiz de Barros produzido pela Cinédia), foram 18 filmes rodados (a maioria brasileira e do gênero comédia, caso desse primeiro filme) até 1982, quando fez seu último filme, Profissão mulher, de Cláudio Cunha.
Graças a essas produções é que hoje podemos ter ideia do que era Marlene em ação nos anos dourados, quando fazia da expressão corporal um capítulo à parte em suas apresentações. Ao internauta que tiver curiosidade, a sugestão é ir ao YouTube para ver trechos de nossa homenageada fazendo jus no cinema ao epíteto de “a que canta e dança diferente”.
Um dos destaques é a cena de Tudo azul (filme de Moacir Fenelon exibido em 1951) em que Marlene contracena com Luiz Delfino e sai a rodopiar pela sala de casa cantando Lata d'água. Foi, aliás, durante as gravações desse filme que Marlene e Delfino começaram um namoro que em 52 viraria casamento e resultaria no único filho da cantora, Sérgio, nascido no ano seguinte.
Outro trecho precioso disponível na internet é a cena de Adiós problemas (produção argentina de 1955, dirigida por Kurt Land) em que “a maior” zanza por uma festa grã-fina interpretando a saltitante Tome polca, crônica musicada de costumes composta por José Maria de Abreu e Luiz Peixoto e lançada por Marlene em 1950, na Continental.
Tome polca
José Maria de Abreu e Luiz Peixoto
Num sarau
Na Rua Itapiru
Em casa das Novais
O calor
Está abrasador
E tem gente demais
Mas tome polca!
Num sofá
A Dona Jacintinha
Faz bolas de papel
E na janela
De papelotes
A Berenice namorisca o Curiel
A reclamar silêncio
Surge o Seu Fulgêncio
Um rotundo e bom comendador
Sim, porque, nesta altura
Chega o padre cura
Com o corregedor
“Hum, hum, senhorita
A honra desta dança
Acaso quer dar?”
“Ó cavalheiro!
A honra é toda minha
Porém já tenho par!”
E tome polca!
Entra o Sousa
Que vem pisando em ovos
Com as botas de verniz
Enquanto a esposa
De olhos em alvo
Fica torcendo
Os cabelinhos do nariz
Por trás de uma cortina
Vê-se a Minervina
Que é mais preta que um tição
Que diz entre risadas:
“Quebra, Dona Alice!
Quebra, Seu Beltrão!”
Atenção
Acordes da Dalila
Seu Gil vai recitar
Formam roda
E o moço, encalistrado
Começa a gaguejar
T-t-tome polca!
Vem o chá
Bolinhos de polvilho
E outros triviais
“São onze horas
Apague o gás”
E assim termina
O bailarico das Novais
E tome polca!
Clique aqui para ouvir a gravação original de Tome polca, por Marlene, em 1955. Vale também conferir outras interpretações da música, como a da comediante Dercy Gonçalves (no filme A grande vedete, de Watson Macedo, em 1958), a da irreverente Maria Alcina (1974) e a da cantora (ex-Trem da Alegria) Patrícia Marx (1992).
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