quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Canta, Marlene: 'Estar no palco é como fazer amor', escreveu a Marlene compositora

Dalva de Oliveira e Marlene
A voz e a desenvoltura de Marlene no palco esconderam uma outra Marlene que poucos conhecem: a compositora. É verdade que sua obra como criadora de músicas – quatro gravadas, fora as tantas que permanecem inéditas – nem se compara à quantidade de músicas de outros compositores que ela gravou (216, se considerarmos apenas os discos de 78 rotações). Mas trata-se de uma obra marcante (além de romântica, rasgada) que merece destaque aqui no blog do Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas da Fundição Progresso.

Uma obra que tem pérolas como A grande verdade, que partiu da vontade de Marlene de compor para Dalva de Oliveira, cantora que adorava desde a adolescência, em São Paulo. Isso em 1950, quando convocou o amigo Luís Bittencourt (compositor, músico do Programa Manoel Barcelos, onde ela cantava) e juntos se enfurnaram num estúdio da Rádio Nacional, ele armado com o violão. Marlene partiu para a Europa e, na volta, recebeu os parabéns pelo sucesso que A grande verdade vinha fazendo na voz de Dalva (que lançou o samba em 51, pela Odeon).

Outras composições de Marlene que tiveram destaque foram O que passou passou (com Abel Ferreira, gravada em 58 por Nora Ney) e Estrela da vida, parceria com Paulo Baiano e José Carlos Asbeg que a própria Marlene gravou em seu disco de 1998.

Capa de 'Estrela da vida', CD de Marlene lançado em 1998
Essa última tem história curiosa: nasceu de um depoimento dado pela cantora a Baiano e Asbeg, para o livro A vida de Marlene, que seria publicado em 1983 como parte da série Gente de sucesso, da Editora Rio (Faculdades Integradas Estácio de Sá). As frases marcantes ditas pela cantora soaram como versos para os entrevistadores, que decidiram juntá-las num bolero cuja letra – naturalmente – teria Marlene falando de sua própria vida. Estrela da vida acabou dando nome ao disco lançado por ela em 1998 (o primeiro de sua carreira no formato CD).

Estrela da vida
Marlene, Paulo Baiano e José Carlos Asbeg

Vou não sei como
Porque nunca sei como vou
Ainda tenho que abrir meus caminhos
Encontrar exatamente
Aonde ir
Descobrir minha estrada
Arrependimentos, eu...
Nenhum
Faria tudo igualzinho
Erros e acertos
Tudo outra vez
Para ir em frente
Outra vez

Voltar à barriga da minha mãe
Deixar os diabinhos saírem
Artista no sangue, na veia, no palco
Santa e profana em qualquer papel
Estar no palco é tão gostoso
É como fazer amor

Vou não sei como
Porque nunca sei como vou
Ninguém percebe essa angústia
Estou todos os dias
Começando
Buscando, buscando...

Estrela da vida, da noite, do palco
Cantar a alegria, a dor e a esperança
Na boca do povo, dias de folia
Na boca do palco, ser só uma cantora
Ser só uma pessoa, cumprir meu destino
Que o artista é muito só
O artista é muito só

A grande verdade
Marlene e Luís Bittencourt

Vai, não posso prender
Não te quero obrigar
A mentir se não queres ficar
Não convém insistir
Não convém iludir pra mais tarde sofrer

Não me tens amizade
Essa é a grande verdade
Por isso não vejo razão
Para nossa união, meu amor

Sonho, quimera, ilusão
Tudo vai terminar
Quando um dia o remorso chegar
E da felicidade existir a saudade no seu coração
Trazes então ao teu lado meu vulto meio apagado
Revivendo um amor desesperado

Clique aqui para ouvir Marlene cantando Estrela da vida ou então aqui para ouvir A grande verdade na interpretação de Dalva de Oliveira.

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