segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Canta, Marlene: ‘Sodade, meu remédio é cantar’

Luiz Gonzaga
Na virada dos anos 40 pros 50, poucos foram os artistas de rádio que não cantaram baião – gênero inaugurado em 1946, com o lançamento de Baião (“Eu vou mostrar pra vocês...”), parceria do pernambucano Luiz Gonzaga (na foto aqui ao lado) com o cearense Humberto Teixeira (na foto abaixo). Dois nomes recorrentes na discografia de Marlene, tanto juntos (com quatro parcerias) quanto separados – Gonzagão com duas músicas, Teixeira com quatro.

Entre as parcerias, destacam-se dois baiões, ambos lançados numa mesma bolacha da cantora com o grande conjunto vocal Os Cariocas: um disco de 78 rotações da Continental feito em 1949 (gravação em setembro, lançamento em dezembro) com acompanhamento do maestro pernambucano Severino Araújo e sua Orquestra Tabajara.

No lado A, o disco trazia a buliçosa Macapá, que fez sucesso, mas nem de perto teve a repercussão da música que vinha no lado B: o clássico Qui nem jiló, até então inédito, mas que a partir dali se tornaria um dos maiores sucessos da música brasileira, com mais de 150 regravações. Com temática romântica e letra matuta, trata-se de um exemplar – segundo os escritores Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello (no livro A canção no tempo) – da integração do baião ao meio urbano, com “melodia mais elaborada”, “em nada lembrando as primitivas cantigas sertanejas”.
Humberto Teixeira

Na década de 1950, outros grandes compositores nordestinos entrariam na discografia de Marlene, como o baiano Dorival Caymmi, o maranhense João do Vale e os pernambucanos Zé Dantas, Manezinho Araújo, Luiz Vieira e Luiz Bandeira, entre outros.

Qui nem jiló
Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

Se a gente lembra só por lembrar
Do amor que a gente um dia perdeu
Sodade inté que assim é bom
Pra gente se convencer
Que é feliz sem saber
Pois não sofreu

Porém se a gente vive a sonhar
Com alguém que se deseja rever
Sodade entonce aí é ruim
Eu tiro isso por mim
Que vivo doida a sofrer
Ai, quem me dera voltar
Pros braços do meu xodó
Sodade assim faz doer
E amarga qui nem jiló
Mas ninguém pode dizer
Que me viu triste a chorar
Sodade, meu remédio é cantar

Clique aqui para ouvir a gravação original de Qui nem jiló, por Marlene e Os Cariocas. Ou aqui para ouvi-los cantando Macapá.

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