sábado, 11 de janeiro de 2014

Canta, Marlene: para não dizer que não falei em Marlene

Lan
Apesar da quantidade de sucessos que emplacou na música popular brasileira, o compositor carioca Luís Antônio (1921-1996) é nome praticamente desconhecido do grande público. Um quase-anonimato que muitos atribuem à carreira militar que ele levou em paralelo ao ofício de compositor – Luís Antônio foi pracinha na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial, e nas rodas boêmias era conhecido como Coronel. Mas conhecidas mesmo seriam composições de sua autoria como BarracãoMulher de trintaEu bebo sim (com João do Violão), Sassaricando (com Jota Júnior)...

Na discografia de Marlene, o nome de Luís Antônio se destaca como autor de três sambas de carnaval de muito sucesso no começo dos anos 50. Curiosamente, são três sambas de protesto lançados pela cantora bem antes da década de 60, quando a canção de protesto viraria um capítulo à parte na música popular brasileira. O primeiro desses sambas veio no carnaval de 1951, quando Marlene despontou soltando a voz nos versos irônicos e realistas (“O pobre vive de teimoso que é”) de Sapato de pobre, parceria de Luís Antônio com Jota Júnior gravada por Marlene em setembro de 50 na Continental, com acompanhamento da Orquestra Tabajara, do maestro Severino Araújo.

Nos dois carnavais seguintes, era através de personagens que os principais sucessos de Marlene cantavam as mazelas sociais. Como na folia de 52, quando uma certa lavadeira Maria caiu na boca do povo através do samba que seria um dos maiores sucessos (talvez o maior) de Marlene: Lata d'água, mais uma parceria de Luís Antônio com Jota Júnior gravada por ela na Continental, dessa vez com acompanhamento de Radamés Gnattali e sua orquestra.

Já em 53, foi a vez de Marlene cantar as desventuras de Zé Marmita, outro personagem transformado em samba de carnaval por Luís Antônio – este em parceria com Gustavo Thomás Filho, o Brasinha – e gravado na Continental. Uma curiosidade: toda vez que Zé Marmita era cantado no auditório da Rádio Nacional, os ardorosos fãs da cantora aproveitavam o breque instrumental após o fim da segunda parte para homenagear sua rainha cantando a plenos pulmões: “Marlene é a maior!”

Sapato de pobre
Luís Antônio e Jota Júnior

Sapato de pobre é tamanco
Almoço de pobre é café (é café)
Maltrata o corpo como o quê (porque)
O pobre vive de teimoso que é

Folha de zinco, caixão de banha
Faz um barraco em qualquer favela
Se tem Amélia que o acompanha
Embora pobre, é feliz com ela

Clique aqui para ouvir Marlene cantando Sapato de pobre.

Lata d'água
Luís Antônio e Jota Júnior

Lata d`água na cabeça
Lá vai Maria
Lá vai Maria...
Sobe o morro e não se cansa
Pela mão leva a criança
Lá vai Maria

Maria lava roupa lá no alto
Lutando pelo pão de cada dia
Sonhando com a vida no asfalto
Que acaba onde o morro principia

Clique aqui para ouvir Lata d`água cantado por Marlene em sua gravação original. Ou então aqui para ver o samba cantado por ela no longa-metragem Tudo azul, de Moacir Fenelon (no início, ela contracena com o ator Luís Delfino, com quem se casaria pouco depois do filme).

Zé Marmita
Luís Antônio e Brasinha

Quatro horas da manhã
Sai de casa o Zé Marmita
Pendurado na porta do trem
Zé Marmita vai e vem

Numa lata...
Zé Marmita...
Traz a boia que ainda sobrou do jantar
Meio-dia...
Zé Marmita...
Faz o fogo para a comida esquentar
E Zé Marmita, barriga cheia
Esquece a vida num bate-bola de meia

Clique aqui para ouvir a gravação original de Zé Marmita.

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