O ano de 1950 é lembrado pela perda da Copa do Mundo em pleno Maracanã, mas pouco se fala que foi também um dos carnavais mais fartos em sucessos lançados: brincou-se ao som de Nega maluca, General da banda, Balzaqueana, Daqui não saio, Meu brotinho, Marcha do gago... E também Se é pecado sambar, aposta da recém-coroada rainha do rádio Marlene para a folia daquele ano.
Trata-se de um samba que antes mesmo de ser gravado – em 18 de novembro de 1949, na Continental, com acompanhamento da Orquestra Tabajara – já era conhecido dos foliões. Isso porque, antes de chegar ao disco, foi lançado por seu compositor, Manoel Santana, nos ensaios da Aprendizes de Lucas – escola de samba da qual ele era um dos baluartes e que tinha como ponto forte justamente a ala dos compositores. Fundada em 1932, no bairro de Parada de Lucas (zona norte do Rio), a agremiação enrolou sua bandeira alviverde em 66, quando se fundiu com a Unidos da Capela para dar origem à Unidos de Lucas.
O que os foliões da antiga escola estranharam ao ouvirem a gravação de Marlene foi o pedaço que faltava na segunda parte do samba: especificamente os quatro primeiros versos, devidamente extirpados da versão original que já era cantada no terreiro. “Disseram na época que o samba foi encurtado pelo pessoal da gravadora pra ficar mais carnavalesco, seja lá o que for isso”, relembra o veterano Elton Medeiros, outro craque que também fazia parte de ala de compositores da Aprendizes de Lucas.
Pois o próprio Elton seria responsável por relançar Se é pecado sambar em sua versão completa, quase meio século depois da gravação original. Foi no CD A alegria continua (MP,B Discos, 1997), que ele gravou num show feito com os cantores Zé Renato e Mariana de Moraes no Teatro Rival. Em 2006, a própria Mariana faria outra bela gravação da versão integral do samba de Manoel Santana, num disco solo gravado em Los Angeles (EUA). Disco, aliás, que ela chamou de Se é pecado sambar.
A seguir, a letra completa do samba – com a indicação em itálico dos (belíssimos) versos cortados entre o terreiro da escola e a primeira gravação, realizada por Marlene em 1949:
Se é pecado sambar
Manoel Santana
Se é pecado sambar a Deus eu peço perdão
Eu não posso evitar a tentação
De um samba dolente que mexe com a gente
Fazendo endoidecer
É um tal de me pega, me solta, me deixa
Sambar até morrer
Se eu pudesse viveria
Para o samba eternamente
Pois o samba é alegria
E conquista toda a gente
Só o samba é culpado
De eu abandonar meu lar
Se sambar é pecado
Deus queira me perdoar
Clique aqui para ouvir a gravação original de Marlene, aqui para ouvir a regravação de Elton Medeiros e Mariana de Moraes (com a letra completa) ou aqui para conhecer a versão solo de Mariana de Moraes.
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