Entre os compositores de maior destaque na discografia de Marlene está Monsueto Menezes, carioca do Morro do Pinto que, apesar da vida curta (morreu aos 48 anos, de câncer no fígado), encontrou tempo pra fazer de tudo um pouco. Ganhou uns trocados como guardador de carros na adolescência, abriu uma tinturaria, foi pintor naïf (medalha de bronze no Salão de Belas Artes do Rio em 72!), estrelou 14 filmes no cinema (entre eles Briga, mulher e samba e O rei da pilantragem) e emplacou bordões (“Ziriguidum!”) em programas da TV Rio, como Noites cariocas, Praça Onze e O riso é o limite.
Na música, atacou de ritmista em diversas escolas de samba, foi baterista na noite do Rio (em palcos como o do Hotel Copacabana Palace), gravou seu vozeirão em dois LPs (1962 e 64) e seis discos de 78 rotações. E como compôs... Tanto pela quantidade (113 músicas gravadas, segundo o IMMUB) e quanto pelos sucessos de carnaval que deixou. Como Me deixa em paz (com Aírton Amorim, em 1952), A fonte secou (com Tufic Lauar e Marcléo, em 1953) e mais três sambas que Marlene gravaria pouco depois.
Como Couro do falecido, parceria com Jorge de Castro que era para ter sido lançado no show Fantasias e fantasia (produzido por Caribé da Rocha no Copacabana Palace), mas que teve que ser adiado, pois sua letra fúnebre podia ser mal interpretada no contexto da época – fins de agosto de 54, pouco depois do suicídio do presidente Getúlio Vargas. Teve que esperar até novembro de 55 para ser gravado, sendo lançado no carnaval de 56, em disco do selo Sinter. No mesmo ano e pela mesma gravadora, Marlene lançou o sacudido Lamento da lavadeira, canto de trabalho que Monsueto assina com Nilo Chagas e João do Violão.
E ainda teve Mora na filosofia, samba em parceria com Arnaldo Passos que Monsueto também entregou à amiga Marlene, que gravou sua voz em bolacha do selo Continental no dia 29 de outubro de 54, mirando o carnaval do ano seguinte. “Nunca o vi sério. Estava sempre muito alegre e fazendo músicas incríveis”, conta Marlene, numa matéria assinada por Rodrigo Faour no sítio Cliquemusic. “Quando eu trabalhava no Copacabana Palace, ele ia lá toda noite bater papo.”
Couro do falecido
Monsueto e Jorge de Castro
Um minuto de silêncio
Para o cabrito que morreu
Se hoje a gente samba
É que o couro ele nos deu
Castiga o couro do falecido
Bate o bumbo com vontade
Que a moçada quer sambar
Castiga o couro do falecido
Morre um para bem de outros
A verdade é essa, não se pode negar
Lamento da lavadeira
Monsueto, Nilo Chagas e João do Violão
Monsueto: Ô, dona Maria! Olha a roupa, dona Maria!
Marlene: Ai, meu Deus! Tomara que não me farte água!
Sabão, um pedacinho assim
A água, um pinguinho assim
O tanque, um tanquinho assim
A roupa, um montão assim
Para lavar a roupa da minha sinhá
Para lavar a roupa da minha sinhá
Quintal, um quintalzinho assim
A corda, uma cordinha assim
O sol, um solzinho assim
A roupa, um montão assim
Para secar a roupa da minha sinhá
Para secar a roupa da minha sinhá
A sala, uma salinha assim
A mesa, uma mesinha assim
O ferro, um ferrinho assim
A roupa, um montão assim
Para passar a roupa da minha sinhá
Para passar a roupa da minha sinhá
Trabalho, um tantão assim
Cansaço, é bastante, sim
A roupa, um montão assim
Dinheiro, um tiquinho assim
Para lavar a roupa da minha sinhá
Para lavar a roupa da minha sinhá
Mora na filosofia
Monsueto e Arnaldo Passos
Eu vou lhe dar a decisão
Botei na balança, você não pesou
Botei na peneira, você não passou
Mora na filosofia
Pra que rimar amor e dor?
Se o seu corpo ficasse marcado
Por lábios ou mãos carinhosas
Eu saberia a quantos você pertencia
Não vou me preocupar em ver
Seu caso não é de ver pra crer
(Tá na cara!)
Clique aqui para ouvir Marlene cantando Lamento da lavadeira, aqui para ouvi-la em Couro do falecido e aqui para conferir sua interpretação de Mora na filosofia.
Marlene, sempre foi a intérprete favorita de Monsueto e lançou quase todos os seus sucessos. Hoje em dia ela é esquecida e os blogs na internet só falam que Caetano Veloso gravou "Mora da filosofia", esquecendo-se da gravação original.
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