Como em 1968, quando ela dividiu com os cantores Blecaute e Nuno Roland o repertório de 87 músicas do show Carnavália, dirigido por Paulo Afonso Grisoli e Sidney Miller e apresentado no Teatro Casa Grande, no Leblon. Com a proposta de ser uma antologia musical do carnaval,o espetáculo era pontuado por histórias da folia que eram contadas pela escritora e pesquisadora Eneida de Moraes. Foi Eneida, aliás, quem escreveu o texto de apresentação do LP lançado em 68 pelo MIS contendo o registro do show. “Carnavália apareceu numa das mais sombrias horas brasileiras”, escreveu a destemida foliã. “Eu ficava pensando: estará essa gente querendo fugir da realidade? Vem buscar aqui duas horas de alegria ou duas horas de saudade?”
Carnavália marcou o retorno de Marlene aos palcos e no ano seguinte lá estava ela no Teatro Miguel Lemos, em Copacabana, cantando sua própria trajetória num show que tinha como título o grito de guerra de seu fã-clube na era do rádio: É a maior! Com direção de Fauzi Arap e Hermínio Bello de Carvalho, o espetáculo seria definido por Marlene como “o grande divisor da minha carreira, pois a partir dele as novas gerações me descobriram e me deram prestígio.” A cantora contaria que o espetáculo também “me permitiu cantar os novos compositores que estavam aparecendo na época: Chico, Caetano, Gil, Milton, todo mundo.” A temporada se estendeu pelos palcos do Teatrinho de Bolso (Ipanema) e do Teatro Ginástico (Centro).
Nesse último espetáculo, uma das músicas lançadas por Marlene foi uma composição de Gonzaguinha que rendeu à cantora uma de suas interpretações mais marcantes...
Galope
Gonzaguinha
O galope só e bom quando é à beira mar
O galope só é bom quando se pode amar
Esse mote só é bom bem livre de cantar
Falar em morte só e bom quando é pra banda de lá
Ei, sacode a poeira
Imbalança, imbalança, imbalança, imbalança
Casa de ferreiro, espeto de pau
Quem não engole espinha nunca vai se dar mal
Quem não dança minha dança é melhor nem chegar
Se puxou do punhal tem que sangrar
Tem que sangrar, tem que sangrar
Ei, sacode a poeira
Imbalança, imbalança, imbalança, imbalança
Me dê um cadinho de cachaça
Me aqueça, me aperte, me abraça
Depressa, correndo, vem ligeiro
Me dê teu perfume, dê um cheiro
Encoste em meu peito o coração
Vamos mostrar pr’esse cabras como se dança um baião
Oi, quiser aprender é favor prestar atenção
Ei, sacode a poeira
Imbalança, imbalança, imbalança, imbalança
Deixa essa criança chorar, deixa essa criança chorar
Não adianta cara feia, nem adianta se zangar
Que ela só vai parar quando essa fome passar
Ih, doutor, uma esmola a um pobre que é são
Ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão
Ei, sacode a poeira
Imbalança, imbalança, imbalança, imbalança
Clique aqui para ouvir (e ver!) Marlene interpretando Galope.
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