quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Canta, Marlene: a dona do palco em espetáculos antológicos

Entre o fim dos anos 60 e o início dos 70, alguns dos espetáculos mais badalados da noite carioca tinham Marlene no centro do palco.

Capa do LP 'Carnavália' (MIS/1968)Como em 1968, quando ela dividiu com os cantores Blecaute e Nuno Roland o repertório de 87 músicas do show Carnavália, dirigido por Paulo Afonso Grisoli e Sidney Miller e apresentado no Teatro Casa Grande, no Leblon. Com a proposta de ser uma antologia musical do carnaval,o espetáculo era pontuado por histórias da folia que eram contadas pela escritora e pesquisadora Eneida de Moraes. Foi Eneida, aliás, quem escreveu o texto de apresentação do LP lançado em 68 pelo MIS contendo o registro do show. “Carnavália apareceu numa das mais sombrias horas brasileiras”, escreveu a destemida foliã. “Eu ficava pensando: estará essa gente querendo fugir da realidade? Vem buscar aqui duas horas de alegria ou duas horas de saudade?”

Capa do LP 'É a maior!' (Fermata/1970)
Carnavália marcou o retorno de Marlene aos palcos e no ano seguinte lá estava ela no Teatro Miguel Lemos, em Copacabana, cantando sua própria trajetória num show que tinha como título o grito de guerra de seu fã-clube na era do rádio: É a maior! Com direção de Fauzi Arap e Hermínio Bello de Carvalho, o espetáculo seria definido por Marlene como “o grande divisor da minha carreira, pois a partir dele as novas gerações me descobriram e me deram prestígio.” A cantora contaria que o espetáculo também “me permitiu cantar os novos compositores que estavam aparecendo na época: Chico, Caetano, Gil, Milton, todo mundo.” A temporada se estendeu pelos palcos do Teatrinho de Bolso (Ipanema) e do Teatro Ginástico (Centro).

Capa do LP 'Te pego pela palavra' (Odeon/1974)Outro espetáculo marcante na carreira de Marlene viria em 1974, também dirigido por Hermínio Bello de Carvalho: Te pego pela palavra, levado ao palco na boate Number One, em Ipanema, com arranjos de Arthur Verocai. No roteiro de Hermínio, a cantora reafirmava a atualização de seu repertório, intercalando seus sucessos radiofônicos com músicas dos novos compositores, como Ivan Lins, a dupla João Bosco & Aldir Blanc e Gonzaguinha, entre outros. Transformado em LP pela Odeon, Te pego pela palavra viraria CD em 2012. No texto de apresentação, o pesquisador Rodrigo Faour destaca o desempenho de Marlene, que, “aos 51 anos, era saudada por um novo público que aplaudia e consagrava sua performance vigorosa, audaciosa e teatral.”

Nesse último espetáculo, uma das músicas lançadas por Marlene foi uma composição de Gonzaguinha que rendeu à cantora uma de suas interpretações mais marcantes...

Galope
Gonzaguinha

O galope só e bom quando é à beira mar
O galope só é bom quando se pode amar
Esse mote só é bom bem livre de cantar
Falar em morte só e bom quando é pra banda de lá

Ei, sacode a poeira
Imbalança, imbalança, imbalança, imbalança

Casa de ferreiro, espeto de pau
Quem não engole espinha nunca vai se dar mal
Quem não dança minha dança é melhor nem chegar
Se puxou do punhal tem que sangrar
Tem que sangrar, tem que sangrar

Ei, sacode a poeira
Imbalança, imbalança, imbalança, imbalança

Me dê um cadinho de cachaça
Me aqueça, me aperte, me abraça
Depressa, correndo, vem ligeiro
Me dê teu perfume, dê um cheiro
Encoste em meu peito o coração
Vamos mostrar pr’esse cabras como se dança um baião
Oi, quiser aprender é favor prestar atenção

Ei, sacode a poeira
Imbalança, imbalança, imbalança, imbalança

Deixa essa criança chorar, deixa essa criança chorar
Não adianta cara feia, nem adianta se zangar
Que ela só vai parar quando essa fome passar
Ih, doutor, uma esmola a um pobre que é são
Ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão

Ei, sacode a poeira
Imbalança, imbalança, imbalança, imbalança

Clique aqui para ouvir (e ver!) Marlene interpretando Galope.

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