Engana-se quem pensa que a folia no Jardim Botânico começou com o popularíssimo Suvaco de Cristo, bloco que chacoalha o bairro desde a década de 80. A história do carnaval por lá remonta à primeira década do século passado, quando o Bloco da Bicharada, comandado por Haroldo Lobo (morador a vida inteira do Jardim Botânico), levava milhares e milhares de foliões às ruas Jardim Botânico, Lopes Quintas e Pacheco Leão. Sempre fantasiados de bichos, os componentes eram sócios do Carioca Esporte Clube e do Jockey Club Brasileiro, além de funcionários da tecelagem América Fabril – maior fábrica do bairro, na Rua Pacheco Leão, chamada de Fábrica Carioca até a década de 1920. O bairro mudou muito desde 1965, ano da morte de Haroldo, mas ainda guarda esquinas e imóveis que faziam parte do dia-a-dia do homenageado da 8ª edição do Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas. Eis alguns deles...
Foi nessa esquina das ruas Jardim Botânico e Visconde da Graça que Haroldo Lobo ouviu, durante o desfile do bloco Foliões de Botafogo, no carnaval de 1965, um samba que chamou sua atenção pela beleza. Era Tristeza, do jovem Niltinho, que encantou Haroldo em seu formato original, com 20 versos. Só que o veterano compositor achou que aquele samba, se ficasse menor, teria mais chance de fazer sucesso. Com a ajuda do compositor Mauro Duarte, integrante do Foliões, conseguiu conversar ali mesmo com Niltinho, a quem pediu autorização para mexer no samba. Autorização dada ("É uma honra!", respondeu o novato), Tristeza passou a ter oito versos e se tornou um dos maiores sucessos da música popular brasileira.
No quarteirão onde hoje está o prédio da Rede Globo – entre as ruas Lopes Quintas, Pacheco Leão, Von Martius e Visconde de Carandaí – funcionava o Clube Recreativo Musical Carioca, espaço criado pela América Fabril para o entretenimento de seus funcionários, todos moradores da vila operária que se estendia da Rua Von Martius até o Horto. Era também nesse trecho que ficava a escola da América Fabril (onde estudou Haroldo Lobo), além da fábrica propriamente dita. Muitas das casas da vila operária ainda estão lá, à direita de quem sobe a Rua Pacheco Leão, e em ruas menores daquela região, como Estella, Abreu Fialho, Alberto Ribeiro e Mestre Joviniano – onde Haroldo nasceu.
Era nesse prédio cinza – o de número 40 da Rua Faro – que Haroldo morava com a família quando faleceu, na madrugada de 20 de julho de 1965. Morava no apartamento de número 302, como recorda o filho do compositor, Denis Lobo: “Era uma da manhã e o cuco, personagem de uma das grandes marchinhas que ele fez (Passarinho do relógio), tinha acabado de cantar.” Há cinco anos a família Lobo morava naquele imóvel, depois de ter vivido numa vila na Rua Jardim Botânico (nº 729), na Rua Conde Afonso Celso e num edifício popular na Rua Lopes Quintas – onde os três filhos de Haroldo nasceram – em frente à igreja da Divina Providência.
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