Canta, Marlene: da bíblia ao rádio, a história do nome

Marlene não se chamava Marlene.

Seu nome de batismo – Vitória de Martino Bonaiutti – até que dava pé como nome artístico, mas na época acharam que não. E ela virou Marlene aos 15 anos, logo nas primeiras cantorias de rádio. Mais precisamente na Rádio Bandeirantes, como atração da Hora dos Estudantes – programa que era comandado pela Federação dos Estudantes do Estado de São Paulo, então dirigida por Menotti de Tomazo (presidente) e Hideo Onaga (secretário). Foram os dois que, juntamente com outros estudantes, decidiram que nossa personagem não se apresentaria como Vitória, mas como Marlene.

É bem provável que a inspiração tenha vindo do sucesso retumbante da atriz alemã Marlene Dietrich (que nesse ano de 1937 já estava na 29ª película de sua filmografia, entre elas o clássico Anjo azul, de 30), mas nossa cantora não tem tanta certeza. “Eu não conhecia Marlene Dietrich, nem sabia, nem ia a cinema”, conta Marlene, em depoimento à jornalista Diana Aragão, sua biógrafa. O fato é que gostou do nome e optou por ele no lugar de Marilu – alternativa que também rondava as ideias do pessoal da Federação dos Estudantes. Detalhe: Marlene Dietrich também não nasceu Marlene, mas Marie Magdalene von Losch.

Pois é justamente na mistura dos bíblicos Maria e Madalena – segundo o Dicionário de nomes próprios – que está a origem de “Marlene”. Nome que, com nossa personagem, entrou de vez na história da música brasileira e do rádio. Nesse último, aliás, foi também cantado num valsinha composta por Mário Lago como tema do programa Marlene, meu bem, que ela comandou com o ator – e marido – Luís Delfino na Rádio Nacional, entre 1955 e 59 (a atração ganharia sua versão televisiva na Record, em 1956, e na TV Rio, a partir de 59).

Marlene, meu bem
Mário Lago

A lua já diz enciumada:
“Marlene, Marlene, meu bem”
E não ilumina mais nada
“Marlene, Marlene, meu bem”
Porque nos poemas de agora
Rival perigoso já tem
Nas luas que são os seus olhos
“Marlene, Marlene, meu bem”

Como é bom ser amada
Assim um amor sem fim que rival não tem
Como é bom se ouvir no ouvidinho
Dizerem baixinho: “Marlene, meu bem...”

Clique aqui para ouvir a valsa Marlene, meu bem em sua gravação original, com Luís Delfino e Marlene, lançada em 1955 pela Sinter.